
Como o metanol é produzido para uso marítimo?
- com insights da Dra. Joanna-Eugenia Bakouni
À medida que a indústria naval avança em direção a operações mais sustentáveis, o metanol surgiu como um combustível alternativo promissor. Ele oferece a promessa de menores emissões, compatibilidade com a tecnologia de motores existente e armazenamento mais simples em comparação com muitos outros combustíveis de baixo carbono. Mas como exatamente o metanol é produzido — e o que marinheiros e profissionais marítimos precisam saber sobre ele?
Conversamos com a Dra. Joanna-Eugenia Bakouni, Gerente de Aprendizagem & Desenvolvimento para o setor Marítimo, que possui ampla experiência em conectar sustentabilidade, segurança e treinamento de marítimos. Ela nos ajudou a desvendar as implicações práticas e estratégicas da produção de metanol para o setor marítimo.
O que é Metanol — e Por Que a Produção Importa?
O metanol é um álcool simples que pode ser usado como combustível marítimo. Mas há mais de uma forma de produzi-lo — e a maneira como é produzido faz grande diferença em sua pegada ambiental.
“Entender a origem do metanol é fundamental,” diz a Dra. Bakouni. “Não basta saber que ele queima de forma mais limpa. É preciso saber como foi produzido para avaliar seu verdadeiro impacto.”
Existem três principais caminhos de produção:
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Metanol Cinza: Produzido a partir de gás natural usando reforma a vapor de metano. Esse método é econômico, mas libera uma quantidade significativa de dióxido de carbono (CO₂).
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Metanol Azul: Também baseado em gás natural, mas com sistemas de captura e armazenamento de carbono (CCS) que reduzem as emissões.
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Metanol Verde (ou e-metanol): A produção de metanol verde começa com eletricidade renovável alimentando a eletrólise, um processo que divide moléculas de água em hidrogênio e oxigênio. O hidrogênio resultante é então sintetizado com CO₂ capturado (normalmente proveniente de processos biogênicos ou emissões industriais) para formar o metanol. Essa rota pode levar a emissões líquidas zero ou quase zero.
Cada tipo tem implicações diferentes para armadores que buscam atender às próximas regulamentações de emissões ou metas corporativas de clima.
O Processo de Produção: Um Resumo Rápido
Metanol Cinza
O metanol cinza é mais comumente produzido pela reação do gás natural com vapor em um processo de reforma, criando gás de síntese (syngas), que contém principalmente hidrogênio (H₂) e monóxido de carbono (CO). O syngas é então convertido cataliticamente em metanol, mas esse processo libera emissões substanciais de CO₂, tornando-o uma solução de curto prazo, e não uma opção sustentável a longo prazo.
Metanol Azul
O metanol azul integra tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS) ao processo de produção do metanol cinza. O CO₂ capturado é normalmente armazenado em formações geológicas subterrâneas ou utilizado industrialmente, reduzindo substancialmente — mas não eliminando completamente — a pegada de carbono.
Metanol Verde
A produção de metanol verde começa com eletricidade renovável. A eletrólise divide a água em hidrogênio e oxigênio. O hidrogênio é então combinado com CO₂ (de fontes biogênicas ou industriais) para produzir metanol.
“Esta é a versão que realmente muda o jogo,” observa a Dra. Bakouni. “Ela se alinha não apenas com a conformidade, mas com metas globais de sustentabilidade como o Acordo de Paris.”
O Que Isso Significa para o Setor Marítimo
O metanol está ganhando espaço porque atende a vários requisitos:
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Líquido em temperaturas ambiente, facilitando o armazenamento
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Queima mais limpa do que combustíveis tradicionais
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Compatível com motores bicombustíveis
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Escalável por meio de múltiplos métodos de produção
Ainda assim, o setor precisa fazer escolhas informadas.
“Não se pode avaliar o metanol apenas pelo nome,” diz a Dra. Bakouni. “É preciso entender a fonte de produção e toda a cadeia de suprimentos, e o que isso significa para emissões, custo e disponibilidade.”
Ela acrescenta que esse tipo de conhecimento operacional é cada vez mais esperado em toda a força de trabalho marítima.
Treinando a Próxima Geração de Profissionais Marítimos
O papel da Dra. Bakouni na Maersk Training inclui garantir que os marítimos não sejam apenas tecnicamente capazes, mas também alinhados com os valores e realidades de uma indústria em descarbonização.
“Um dos nossos objetivos é incorporar a sustentabilidade no treinamento desde o primeiro dia,” ela explica. “Quando ensinamos sobre metanol, não paramos nos procedimentos de manuseio — falamos sobre sua origem, por que isso importa e como se conecta à ação climática global.”
A simulação desempenha um papel vital nisso. Ela permite que as tripulações treinem com segurança em sistemas que talvez ainda não encontrem a bordo, ao mesmo tempo em que desenvolvem o pensamento crítico necessário para a transição de combustíveis.
Isso, segundo a Dra. Bakouni, também apoia vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, incluindo:
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ODS 4: Educação de qualidade
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ODS 13: Ação contra a mudança global do clima
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ODS 14: Vida na água
“Descarbonização não é mais um conceito futuro,” ela diz. “Está acontecendo agora — e o treinamento precisa acompanhar.”
Olhando para o Futuro
O caminho do metanol depende da capacidade de produtores, portos e reguladores de ampliar a produção verde — e dos armadores de investir com sabedoria.
Mas uma coisa é certa: é preciso fechar a lacuna do conhecimento. Os marítimos precisam saber o que está em seus tanques, como chegou lá e o que isso significa para seu navio e para o mar. E, acima de tudo, como podem se manter seguros.
“Aprender não é um luxo,” conclui a Dra. Bakouni. “É assim que mantemos as pessoas seguras e as preparamos para um futuro mais sustentável.”